O Não-Saber e a Graça

Não sei. É de uma ignorância mansa que falo, uma cegueira que me tateia os olhos. Não entendo como se pode trair o próprio sangue que corre nas veias de um povo, nem como a bala, esse metal frio e sem alma, ousa interromper o mistério de uma criança. A terra treme. Ela tem peso, ela tem febre, e nós, em nossa redoma de vidro, fingimos que as mãos estão limpas. Por que o silêncio se tornou o nosso único teto? Quando foi que confessar a própria angústia virou uma nudez proibida?

Eu não sei. E esse “não saber” é um abismo.

Mas, no centro desse caos que me desorienta, sinto uma pulsação. É um ritmo que não vem de fora; é uma coisa que lateja, divina e crua, bem no meio da nossa ferida. Há um momento, um átimo de segundo, em que as pessoas se olham e se reconhecem humanas. Ali, o mundo respira. É um suspiro que vem de longe, um cansaço que se transforma em esperança. Eu ofereço o que tenho: esse amor que é um núcleo duro e pulsante. É a minha forma de chamar a vida para fora da casca.

Na dúvida, não há solidão, há o encontro. Temos essa liberdade terrível e bela de escolher a resiliência, de deixar que o coração dite um passo que a razão desconhece. Que tipo de vida seria a nossa se a esperança não fosse esse sangue invisível correndo por dentro? Seria o deserto. E eu não nasci para o deserto.

Não tenho as respostas. O que tenho é este escuro iluminado. Ao abraçar o amor, acendo uma pequena vela no oco do mundo. E, nesse clarão breve, encontro a coragem de ser contra o que é injusto, de semear o que é terno, tecendo uma trama de graça que nos amarra uns aos outros.

É um mistério. Eu não sei. Mas sinto. 😔

©️Beatriz Esmer

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