O trem do metrô, a fila do supermercado, a mesa da cozinha. Minhas mãos cheias de desejo, as suas cheias de sono. Na porta meio iluminada do seu quarto, meu corpo murmurou que queria o seu, mas você estava muito distraído com a geografia das coisas — graus de separação e despedidas inevitáveis. Ainda assim, penso no seu nariz, na sua boca e no estreito vão entre os dois, como um escorregador de plástico em um parquinho infantil onde nós dois crescemos. Veja, as coisas que eu queria de você eram coisas de sonhos febris e profundos: imprudência, línguas ensanguentadas e pupilas dilatadas. Algum tipo de ruptura, algum tipo de entrelaçamento, algum tipo de pele. Movimento e sensação eram as coisas que eu queria que você tivesse escolhido — não estase, nem silêncio, nem poeira. Mesmo agora, às vezes deito de lado no escuro e tento sonhar comigo mesma de volta à ternura. E, em algum lugar — em um lugar onde o tempo não escorre por entre nossos dedos enquanto não estamos olhando — ainda estou sentada naquela sala (aquela sala pequena e desconhecida), esperando sentir seus dedos em meu cabelo… ❤️
©️ Beatriz Esmer
