Na Casa da Minha Infância

Na casa de minha infância, jamais se acenderam luzes artificiais de Natal, tampouco surgiram presentes. Reflito sobre isso enquanto contemplo o céu, onde o vermelho e o laranja desvaneceram com o crepúsculo, encobrindo a luminosidade do sol.

Meus olhos, repletos de contemplação, acompanham a revoada de pássaros que pinta o céu de negro, como se protegessem a casa de outrora.
Sem intenção, mas sem ressentimento, mantenho viva a tradição antiga. Prefiro as luzes celestiais, pois assim meus olhos foram educados. Não sinto falta do brilho metálico das bolinhas de plástico nem do frenesi comercial do Natal. Agradeço por isso. Se as coisas tivessem sido diferentes, talvez meus olhos não tivessem aprendido a buscar essas belezas singulares que só se revelam na inversão da luz (que obscurece a verdade do que somos no escuro).

Não sei quanto tempo ainda estarei aqui, mas sei que perderei esse privilégio. As luzes das casas, janelas e árvores piscarão incessantemente, revelando as verdades deste mundo que avança como uma mariposa em direção à luz. E eu, de olhos fechados, contemplarei o pôr do sol. 🙏🏾

Escrito às vésperas de um Natal com o coração cheio de saudade.

©️ Beatriz Esmer

Foto: meu irmão Vicente e eu 🥰

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