Nas tramas invisíveis da memória, pulsa ainda o nome de Jovelina — mulher de fé incandescente e sabedoria sem diploma, mas com doutorado na escola dura da vida. Ela faria hoje 96 anos, e mesmo o tempo, com seus passos firmes, não apaga o eco da sua presença.
Criada entre a simplicidade e o sagrado, ela carregava uma cruz invisível, feita não de madeira, mas de pobreza e descaso, moldada pelas mãos da luta diária. Cada ruga em seu rosto era uma linha escrita por Deus, cada gesto seu, uma oração viva. Católica fervorosa, rezava com o coração inteiro — um coração que sangrava, mas nunca endurecia.
Na adolescência, sua fé parecia distante, envolta em mistérios que a juventude não alcançava. Mas o tempo — esse grande explicador — ensinou que a fé de Jovelina não era dogma, era resistência. Era a chama que iluminava os dias escuros, o fio que costurava esperança no tecido rasgado da vida. Admirá-la virou inevitável. Entendê-la, uma dádiva.
Ela não tinha biblioteca, mas conhecia o mundo pelas dores e amores que vivia. E ensinava com olhar, com silêncio, com abraço. Lutadora. Não por glória, mas por dignidade.
Hoje, Jovelina vive nas memórias que choram e sorriem. No altar das saudades, ela é flor que nunca murcha. Minha mãe! 🙏🏾❤️
©️ Beatriz Esmer
