Passava os dias ali, quieta, no meio das coisas miúdas e me encantei…
Era como se o tempo tivesse desaprendido a correr. As horas se esticavam feito fios de algodão, e eu me deixava ficar. Entre o chiado da chaleira, o ranger da cadeira de balanço, o cheiro de café recém-passado e o sol que entrava tímido pela fresta da janela, havia uma paz que não se anunciava — apenas existia.
As coisas miúdas… Ah, essas tinham um jeito de me olhar de volta. A colher de chá, sempre no mesmo lugar. O vasinho de manjericão, que crescia devagar, mas com uma teimosia bonita. O caderno de capa gasta, onde eu rabiscava pensamentos que não pediam plateia. Tudo ali parecia saber de mim mais do que eu mesma.
E foi nesse silêncio que me encantei. Não por alguém, nem por um grande acontecimento. Me encantei por estar. Por ser. Por perceber que há uma beleza que só se revela quando a gente para de procurar. Uma beleza que mora no intervalo entre um suspiro e outro.
Talvez seja isso que chamam de amor: esse arrepio manso que a vida dá quando a gente se permite sentir o mundo sem pressa. 🥰🌻
©️ Beatriz Esmer
