Por Beatriz Esmer
“Não é desprezo pelo que é nosso, não é desdém pelo meu país. O país real, esse é bom, revela os melhores instintos; mas o país oficial, esse é caricato e burlesco.”
— Machado de Assis
Nas esquinas onde o samba resiste, nos mercados onde o suor é moeda, e nos lares onde o afeto é abundante mesmo quando falta tudo, pulsa o Brasil de verdade. O país real é feito de gente que acorda cedo, que sonha alto, que compartilha o pouco que tem. É um Brasil que não aparece nas manchetes, mas que sustenta a nação com dignidade e coragem.
Do outro lado, o país oficial se desenha como uma tragicomédia institucional. É o palco onde políticos encenam promessas com a convicção de atores medíocres. A burocracia se transforma em um labirinto kafkiano, e os discursos são tão previsíveis quanto os escândalos que os sucedem.
Mais recentemente, esse teatro ganhou um novo ato: a viralatisse ideológica. Políticos como Eduardo Bolsonaro e Tarcísio de Freitas, em sua devoção quase religiosa a Donald Trump, abandonam qualquer senso de soberania nacional para repetir slogans importados. É como se o Brasil fosse um satélite cultural dos Estados Unidos, orbitando em torno de ideias que não nos pertencem. Essa submissão voluntária revela uma crise de identidade política e uma renúncia ao pensamento crítico.
Neste cenário, a sátira de Jonathan Swift encontra terreno fértil. O reino de Liliput, com suas disputas mesquinhas e líderes ridículos, parece ter se instalado nos corredores do poder. A política brasileira, em muitos momentos, não tem nada a invejar às farsas literárias — ela as supera.
Mas o país real resiste. Ele vive nas pequenas gentilezas, nas lutas por justiça, na esperança que insiste em florescer mesmo em solo árido. É esse Brasil que merece ser celebrado, defendido e reconstruído. Não o Brasil das caricaturas políticas, mas o Brasil das mãos calejadas e dos corações generosos.
©️ Beatriz Esmer
