Na padaria da esquina, Seu Alfredo abre as portas às seis em ponto. Não porque o relógio manda, mas porque o cheiro do pão quente é sua forma de dizer “bom dia” ao mundo. Ele tem 78 anos e uma saúde que desafia estatísticas. Quando perguntam se tem planos para o futuro, ele ri com os olhos e responde: “Meu plano é não deixar o pão queimar.”
Vivemos como se o amanhã fosse um contrato assinado em cartório. Planejamos viagens, aposentadorias, reformas na cozinha. Guardamos garrafas de vinho para ocasiões especiais que nunca chegam. E enquanto isso, o hoje escorre entre os dedos como areia fina — silencioso, precioso, ignorado.
Sêneca, com sua toga e sabedoria estoica, nos dá um tapa filosófico: “Quão tolo é fazer planos para uma longa vida, quando nem sequer somos donos do dia seguinte.” E não é que ele tem razão?
A moça do andar de cima vive dizendo que vai começar a pintar “quando tiver tempo”. O rapaz do caixa sonha em escrever um livro, mas espera “a fase certa”. E eu, que sempre quis fazer pilates, sigo adiando — como se o tempo fosse um vizinho paciente, sempre disposto a esperar.
Mas o tempo não espera. Ele passa, discreto e implacável. E talvez a sabedoria esteja em viver como Seu Alfredo: com o coração no presente, o pão no forno e a alma desperta.
Porque no fim, o único dia que realmente temos é este. E ele merece ser vivido com a intensidade de quem sabe que o amanhã é apenas uma hipótese. 🙏🏾❤️
©️Beatriz Esmer
