Há mulheres que caminham contra o vento. Não por teimosia, mas por necessidade. Elas atravessam tempestades com os olhos cheios de histórias que ninguém vê, mas que estão lá — vastos, misteriosos, guardando sonhos que o tempo tentou apagar. São mulheres costuradas por dentro, não por linhas visíveis, mas por uma força que desafia o desmanche. E mesmo quando tudo parece querer desfazê-las, elas permanecem inteiras. Inteiras e silenciosas, como quem sabe que resistir também é uma forma de falar.
O amor chega como quem promete abrigo, mas às vezes traz tempestade. Algumas dessas mulheres se moldam para caber no coração de alguém, descobrindo tarde que o amor pode ser cura, sim, mas também corte. E é nesse corte que elas aprendem: não é a perfeição que as torna fortes, mas a coragem de se refazer com os pedaços que sobraram. Elas recolhem os cacos, colam com dignidade, e seguem — não como quem esquece, mas como quem transforma dor em arte.
Há quem as encontre à beira-mar, sozinhas, conversando com as ondas. Ali, onde o mundo parece suspenso, elas escutam a própria dor como quem ouve uma canção antiga. A tristeza não as assusta; ela é parte da dança. E mesmo quando a alegria escapa como névoa, elas continuam dançando. Porque sabem que a felicidade não é uma casa onde se mora, mas uma visita que se acolhe com carinho.
Essas mulheres colecionam instantes como quem junta estrelas. Um pôr do sol, uma gargalhada, um segredo sussurrado — tudo vira constelação. Elas deixam rastros, pedaços de si em cada estação, como quem busca reencontrar o que foi esquecido. E seguem o fio invisível que as guia, mesmo sem saber onde termina. Se cruzar com uma delas, olhe bem: dentro do olhar dela há um universo inteiro. Feito de silêncio, força e uma beleza que só quem sobrevive entende. 🙏🏾❤️
©️ Beatriz Esmer
