— Eles não vão gostar!
— Eles que se fodam!
Foi assim que começou. Duas frases, cuspidas com a força de quem já cansou de pedir licença para existir. Eu estava ali, diante de mais uma decisão que parecia pequena, mas carregava o peso de todas as expectativas alheias. Um corte de cabelo diferente, uma escolha de carreira, uma opinião que não se encaixava no molde. Sempre vinha alguém com o alerta: “Eles não vão gostar.”
Mas quem são “eles”? Os que assistem de camarote, prontos para vaiar? Os que nunca ousaram sair da fila, mas distribuem regras como se fossem juízes do mundo? “Eles” são muitos, e ao mesmo tempo, ninguém. Um fantasma coletivo que paira sobre cada escolha autêntica.
Naquele dia, eu decidi que não ia mais viver em função do gosto dos outros. Não por rebeldia vazia, mas por sobrevivência. Porque agradar a todos é morrer aos poucos — uma versão diluída de si mesmo, feita para caber em moldes que nunca foram seus.
Então eu disse. Com raiva, com alívio, com coragem:
— Eles que se fodam!
E foi libertador. Não porque eu queria ofender, mas porque eu precisava me libertar. A partir dali, cada passo foi meu. Cada erro, cada acerto, cada riso e cada lágrima — todos meus. E se eles não gostarem? Que se fodam!
©️ Beatriz Esmer

Art: Acrylic 60X90cm