Ela aprendeu cedo, talvez cedo demais, que a vida não espera aplausos. Que mesmo os instantes mais sublimes se despedem sem aceno. Foi então que decidiu: viveria como se tudo fosse uma despedida. Porque tudo é.
A xícara de café pela manhã ganhou o peso de um ritual de adeus. O perfume de quem passa na calçada tornou-se memória antes mesmo de desaparecer. Cada olhar trocado, um relicário. Cada riso partilhado, um testamento deixado ao tempo.
As pessoas achavam estranho. “Mas por que tanta solenidade num simples pôr do sol?” — ela sorria. Mal sabiam eles que todo pôr do sol carrega o luto do dia que se foi. Que a beleza da efemeridade está justamente na sua urgência de ser contemplada.
Viver assim não era tragédia, mas arte. Uma forma de moldar o cotidiano com a argila do sagrado. De investir no que é passageiro como se fosse eterno, porque — de certo modo — é. Aquilo que se despede com verdade nunca parte por completo.
E quando chegava a noite, ela deitava com o coração exausto e grato. Por ter amado sem reservas. Por ter dito o que precisava ser dito. Por não ter economizado abraços. Por ter vivido — de verdade — cada pequena morte do dia.
Afinal, viver como se tudo fosse uma despedida é, paradoxalmente, o jeito mais íntegro de permanecer. 🙏🏾
©️ Beatriz Esmer
