Crônica – O Mundo Dá Cambalhota

Há dias em que o Brasil parece acordar decidido a provar que não é um país, mas um roteiro escrito por algum roteirista genial e debochado. Não basta a política ser turbulenta, ela precisa ter timing, precisa ter ironia, precisa ter coincidência.

Maria do Rosário acorda, abre a janela, respira fundo: é seu aniversário. Talvez pense em bolo, talvez em flores, talvez em mensagens de amigos. O que ela não imagina é que, lá no planalto central, o destino prepara uma surpresa digna de manchete: Jair Bolsonaro, o mesmo que um dia a insultou em público com palavras de baixo calão, é preso justamente no dia em que ela celebra mais um ano de vida.

O mundo não gira, ele dá cambalhota. E nessa cambalhota, a cena se compõe como se fosse escrita para o teatro: a mulher que foi alvo de ofensas recebe parabéns; o homem que as proferiu recebe algemas. É como se o tempo tivesse guardado essa virada para o momento certo, para que o contraste fosse ainda mais saboroso.

No Brasil, a realidade tem senso de humor. Não é humor leve, de piada de salão. É humor ácido, de quem sabe que a vida é feita de ironias. O roteirista do Brasil não brinca em serviço: ele escreve coincidências que parecem milagres, ele costura destinos com a precisão de quem sabe que o público precisa rir, chorar e se espantar ao mesmo tempo.

E assim, entre velas apagadas e portas trancadas, o país segue sua novela interminável. Uma novela em que cada capítulo é mais improvável que o anterior, mas todos igualmente verossímeis. Porque, afinal, aqui não há ficção que supere a realidade.

O Brasil não é para amadores!

Parabéns Maria do Rosário!

©️ Beatriz Esmer

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