E, de repente, as lembranças estavam lá, inundando tudo.
Inundando os olhos até que se tornassem rios, inundando o peito até que se tornasse mar, inundando a alma até que se tornasse oceano.
Inundando a cama, como se o descanso fosse impossível; inundando a casa, como se cada parede guardasse ecos de vozes antigas; inundando os lábios, como se a palavra fosse feita de saudade.
Fazia tanto tempo que não chovia.
O céu parecia esquecido de sua própria ternura, e agora esta tempestade…
Não era apenas água: era memória líquida, era tempo devolvido, era silêncio que se desfazia em trovões.
Cada gota trazia uma história, cada relâmpago iluminava um rosto perdido, cada sopro de vento abria portas que estavam trancadas dentro de mim.
E eu compreendia, enfim, que algumas tempestades não vêm para devastar, mas para revelar.
Revelar que o coração ainda pulsa, que a ausência ainda fala, que a vida, mesmo em ruínas, insiste em florescer.
E, de repente, eu estava lá: inteira na chuva, inteira na lembrança, inteira na tempestade. 🙏🏾
©️ Beatriz Esmer
