Não. Não deixe. Não abandone nada para esse lugar vago e covarde que chamamos Depois. O Depois é a ausência de ser, é o fantasma do que poderia ter sido no agora, mas que se dissolveu em poeira temporal.
Pois o Depois é a certeza de que o café esfria. E o café não é apenas a bebida na xícara; é a urgência morna, a fragrância quente que só se oferece neste exato segundo de vapor. Esfriado, é apenas um líquido amargo, uma memória tépida de um calor que se perdeu por desatenção.
E o interesse, ah, o interesse some. Como uma luz que se apaga não por falta de energia, mas por falta de um olhar que a sustente. A curiosidade que nos incendia o peito é feita de material volátil, exige a chama imediata. No Depois, ela se torna cinzas, uma vaga lembrança de um entusiasmo que já não comove, de uma porta que se fechou sem que a mão ousasse tocá-la.
O dia vira noite. Simplesmente. O esplendor solar, a promessa de clareza, a possibilidade aberta da manhã, tudo cede à densidade escura. As pessoas, essas criaturas de passagem e espanto, crescem. Elas se alongam para longe do que eram, vestem-se de novas indiferenças, de novas urgências que não incluem você. E depois, invariavelmente, envelhecem. O tempo as tinge de um cansaço que anula o gesto outrora possível.
A vida. A vida não espera. Ela passa. Não se arrasta, não hesita, ela simplesmente é e se vai. E no fim, na derradeira e inevitável paisagem do Depois, o que resta é o arrependimento — a dor pontiaguda de não ter feito quando, veja só, você podia. Quando o gesto era fácil, a palavra simples, o café quente.
O Depois é a cela onde guardamos o nosso ser não-vivido. Que horror. Que desatenção trágica a este presente que é tudo o que temos. Respire fundo, e faça. Agora. Não deixe nada para a morte do tempo. 🙏🏾❤️
©️ Beatriz Esmer
