O Milagre da Terra: A Semente Guerreira

Ora, o senhor me diga, não é mesmo que a vida, quando é de verdade, tem aquele temperamento de sertão? De uma secura primeira que esconde o sumo bom, o milagre demorado. Vê-se na gente, claro, neste andar de espinho e flor que a gente chama de destino — mas o milagre, o milagre da Terra, está ali, na menor e mais valente coisa.

O cajueiro, ah, o seu cajueiro. Semente pequena, que nem promessa que a gente carrega escondida no peito, no fundo da algibeira da alma. Ali estava ela, a dita cuja, debaixo da terra escura e gorda, que é o esquecimento, que é o antes de ser. E o que é que a semente faz? Ela não espera, não cabela de medo. Ela faz o que tem que fazer, com a teimosia mansa de quem sabe que o sim é mais forte que o não.

Brotando a semente, o senhor disse. E nisso está o ponto. É um guerreiro saindo para fora, o senhor notou, e a verdade tem esse viço. É o rebentar da casca, o forçar miúdo e cego, mas de uma força tamanha que move a poeira e fura a sombra. É a busca da vida sendo feita com a urgência de um raio que sai da nuvem. Não é só querer viver, é ter que viver, é a ordem de Deus escrita no miolo da matéria.

E nossa jornada, esta vida que nos empurra para a frente, que de difícil tem o nome e o feitio de vereda torta — não é a mesma peleja? A gente, muitas vezes, se sente semente enterrada, esperando a hora de vingar. Mas aí vem a força, a vontadebra de sol, e a gente brota, sai para fora, meio cambaio no começo, mas sempre procurando o alto.

É preciso ter a coragem do broto, essa firmeza de fibra que não tem peso nem braço, mas vence a dureza do torrão. A gente é assim, meu amigo: um cajueiro que sai da própria escuridão para dar o fruto e a sombra, nem que seja só por um instante. O milagre é a luta, e a vida é a terra de onde a gente se desenterra. 🌿🌱🌻

©️ Beatriz Esmer

Meu cajueiro

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