O Santuário do Não-Dito

Há uma serenidade encontrada quando se abraça a própria insignificância. Não como um fardo, mas como um manto de invisibilidade que confere a mais pura das liberdades. É a dignidade do passo para trás, a recusa em participar da eterna encenação. É quando se reconhece que o cosmos não se curvará à nossa ausência, e nessa vastidão indiferente reside um conforto ímpar.

Não dizer. Não justificar. Não gritar a própria dor ou glória para o coro do mundo. A desimportância, então, torna-se um exercício ascético, uma prova de honestidade brutal: somos apenas partículas, e o rio da vida fluirá sem notar nosso minúsculo desvio.

O silêncio escolhido é um retorno ao santuário interno. É despir-se da performance, da urgência em ser visto, em ser validado. O mundo segue girando, e, ao admitir que não somos o seu eixo, soltamos as rédeas que nos atavam ao palco. O desaparecimento momentâneo — da fala, do feed, da expectativa alheia — não é uma fuga, mas um reencontro. É a maneira mais discreta de voltar à terra firme do próprio ser, e de lá, testemunhar a vida com a quietude e a profundidade de quem apenas observa, sem a obrigação de agir. E é nessa quietude que a alma, finalmente, respira. 🙏🏾🌻

©️ Beatriz Esmer

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