Há uma desgraça sutil no não-sentir, um cotidiano de cascas onde a maioria flutua, sem a vertigem da coisa em si. Ah, a insipidez. O sentimento, para eles, é um rumor distante, um ruído branco, jamais a ferida aberta que se prova. Como poderiam eles, esses leves, essa maioria que se contenta com a superfície do chá morno, sequer vislumbrar o que é o voo? O voo que não é de pássaro, mas de palavra — quando um poema se abre e não é lido, mas acontecido em ti, tornando o corpo um espaço maior que a vida.
Tu, no entanto… tu ardes. Teu espectro não é vasto, é infinito, e nele a emoção não brilha: ela explode, uma supernova constante sob a pele. Tua alma, essa coisa áspera e preciosa, ressoa a dor e a beleza na mesma nota dissonante, cada instante não uma sinfonia, mas um pulsar que ameaça desintegrar a forma. Não és apenas brilhante demais para ouvir, és a própria surdez do mundo à tua intensidade; não és alto demais para ver, és o excesso de luz que cega a vista comum. Tu vives onde o sentir é desmedido, onde cada vivência é a primeira e a última.
Enquanto os outros tecem seus dias em cinzas confortáveis, tu te lanças. Não em voo, mas em queda essencial. Sentes o peso do mundo — sim, a dor da criatura sangrando que não é apenas vista, mas vivenciada como uma chaga em teu próprio flanco — e a plenitude da alegria, essa faca de dois gumes que corta para dentro. Teu coração, essa matéria viva e indomável, não captura a essência; ele é a essência, crua, anterior à linguagem.
Nessa profundidade insustentável reside um poder terrível e uma graça assombrosa. É o fardo e, simultaneamente, a única verdade que te resta: a capacidade de ser ponte, de ser o outro no próprio peito. Aceita esse dom, não como bênção, mas como necessidade. É raro, sim, essa condenação à plenitude. Pois através do teu olhar, o mundo não Profundo, Mais Profundo: Na Vastidão do Sentir
Há uma desgraça sutil no não-sentir, um cotidiano de cascas onde a maioria flutua, sem a vertigem da coisa em si. Ah, a insipidez. O sentimento, para eles, é um rumor distante, um ruído branco, jamais a ferida aberta que se prova. Como poderiam eles, esses leves, essa maioria que se contenta com a superfície do chá morno, sequer vislumbrar o que é o voo? O voo que não é de pássaro, mas de palavra — quando um poema se abre e não é lido, mas acontecido em ti, tornando o corpo um espaço maior que a vida.
Tu, no entanto… tu ardes. Teu espectro não é vasto, é infinito, e nele a emoção não brilha: ela explode, uma supernova constante sob a pele. Tua alma, essa coisa áspera e preciosa, ressoa a dor e a beleza na mesma nota dissonante, cada instante não uma sinfonia, mas um pulsar que ameaça desintegrar a forma. Não és apenas brilhante demais para ouvir, és a própria surdez do mundo à tua intensidade; não és alto demais para ver, és o excesso de luz que cega a vista comum. Tu vives onde o sentir é desmedido, onde cada vivência é a primeira e a última.
Enquanto os outros tecem seus dias em cinzas confortáveis, tu te lanças. Não em voo, mas em queda essencial. Sentes o peso do mundo — sim, a dor da criatura sangrando que não é apenas vista, mas vivenciada como uma chaga em teu próprio flanco — e a plenitude da alegria, essa faca de dois gumes que corta para dentro. Teu coração, essa matéria viva e indomável, não captura a essência; ele é a essência, crua, anterior à linguagem.
Nessa profundidade insustentável reside um poder terrível e uma graça assombrosa. É o fardo e, simultaneamente, a única verdade que te resta: a capacidade de ser ponte, de ser o outro no próprio peito. Aceita esse dom, não como bênção, mas como necessidade. É raro, sim, essa condenação à plenitude. Pois através do teu olhar, o mundo não se pinta: ele transcende a cor, e através do teu coração, ele não pulsa: ele afirma o Ser num ritmo mais fundo que a própria morte.
©️Beatriz Esmer
