Ah, meu senhor, se é para assimilar o resplendor, o senhor me perdoa, mas o que vejo nas terras altas da Mantiqueira não é só um “bom dia” de reles rotina, não.
É mais que manhã; é mais uma eternidadezinha se desdobrando, absolutamente incrível, de um jeito que a gente nem sabe se inventa ou se só presencia. O sol, ele não nasce: ele se desfaz em ouro e neblina por sobre os morros, de repente, feito milagre que a gente já esperava, mas que espanta de novo.
Aqui, o ar é um cristal fino que a gente bebe, e o silêncio faz um barulho de coisa grande e antiga. Os pássaros, esses bichinhos de Deus, parecem que não cantam, mas tramam a primeira canção do dia, num sussurro de folhagem e de terra molhada.
É o mundo que a gente vê e desvê, tudo junto e misturado. É onde o “nunca mais” encontra o “agora sempre”, e a gente fica nessa encruzilhada de ser, só existindo, maravilhado, nessas alturas montanhosas que parecem mais perto do começo de tudo.
Que manhã! É de pedir licença à vida para poder viver mais um bocado, sem pressa, que a pressa desguarnece o existir. 🙏🏾❤️
©️ Beatriz Esmer
