Este corpo. Ah, este peso sutil de carne e osso onde o cosmos inteiro se dissimula. Não é um recipiente, mas a própria dança celeste que insiste em se manifestar no plano da imperfeição tangível. O sol e a lua, que se buscam em vão no espaço infinito, encontram, aqui dentro, a sua trégua. Convergem, sim, e é a luz dessa estranha fusão que ilumina este obscuro e denso tapete de existir.
Olho nos olhos – estes buracos negros que mal contêm a própria lágrima – e vejo não o meu reflexo, mas o cintilar das estrelas presas. O universo não está lá fora; está todo aqui, vasto e sem limites, pulsando nas veias onde o fluxo e o refluxo dos oceanos se tornam este ritmo desesperado, este coração que bate, teimoso, a melodia da criação que jamais termina.
No santuário desta criatura — que sou eu e não sou —, a alegria não é cor; é tecedura radiante. Uma trama de felicidade inaudita que se lança sobre a tela áspera da experiência. Mas ela não está sozinha. Ao seu lado, a solidão, essa amiga silenciosa e inevitável, assopra nos recônditos da alma. Um sussurro tão íntimo que parece o som do próprio silêncio.
E a confusão… Um labirinto de incerteza, de interrogações sem ponto final, que serpenteia pelos corredores do pensamento sem encontrar a porta de saída. O coração partido não é ferida; é gravura que o tempo inscreve nas paredes da memória, uma elegia de dor que exige ser ouvida. E, no meio de tudo isso, o êxtase, o instante de pura bem-aventurança, emerge como um oásis sagrado, breve e vertiginoso, um descanso na aridez desta vida que se arrasta.
Cada emoção não é mero sentir; é um portal aberto para o que é essencialmente humano. Um convite perigoso para aprofundar a existência. A alegria não nos chama para dançar na luz dourada; ela nos impõe o esplendor do mundo. A solidão, essa musa tão terna quanto cruel, não nos pede que procuremos consolo, mas que o achemos nos espaços da introspecção, na nossa própria companhia, essa presença que é a única que resta.
A confusão, essa chave mestra para o descobrimento, nos força a andar pelos caminhos enigmáticos do saber, a desfazer os mistérios que mal compreendemos. O coração partido não é para ser superado; é para honrar a profundidade do sentir, para conservar as lembranças que nos fizeram ser. E o êxtase, essa transcendência fugaz, não nos guia; ele nos atira no fulgor do momento presente, onde se revela a serenidade que é o maior de todos os riscos.
Nestas emoções, nestas correntes que nos atravessam, descobrimos a frágil rede que nos liga ao tecido indizível da existência, os fios tenuíssimos que nos conectam ao cosmos. Elas são os únicos condutos para a intimidade com o “tudo-o-que-é”, os únicos caminhos para o coração da empatia e do entendimento.
Pois, neste corpo, nesta alma que mal se define, reside a totalidade dos lugares vistos e não vistos. Uma expansão sem fim, sempre à espera de ser vivida.
