Trago aqui minhas mãos carregadas de memórias, não como quem carrega um peso, mas como quem sustenta o próprio vazio do tempo. São mãos que pesam de tanto nada conterem, senão o rastro do que passou.
Ouço-as repetidamente escrever — e é estranho que as mãos falem aos ouvidos do espírito. Elas escrevem sobre sonhos, essa arquitetura do impossível que construímos para não ter de olhar para o chão. Escrevem sobre a beleza, que nada mais é do que o cansaço de não saber o que as coisas são. E escrevem sobre a alma, essa palavra que usamos para nomear o lugar onde dói o universo.
Sentir é estar longe de si. E nestas mãos, que são minhas e contudo são de outro, as memórias tornam-se o eco de uma voz que nunca se cala, mas que nada diz.
“Escrever é esquecer. A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida.”
©️ Beatriz Esmer
