Muitas vezes, a gente caminha pelo mundo com uma pressa que é, no fundo, um medo de olhar. E nessa cegueira, subestimamos o poder de um contato. Um toque que não quer nada, mas que diz tudo: “eu te vejo”. É uma coisa quase assustadora, não é? Perceber que um sorriso, esse breve repuxar de lábios, pode ser a fresta por onde entra a luz em uma casa que estava fechada há anos.
Uma palavra gentil não é apenas som; é matéria. Ela ocupa um espaço no ar que antes era preenchido pelo vazio. E aquela escuta atenta… ah, como é raro alguém que nos empreste o ouvido sem pressa de responder, apenas para deixar que o nosso silêncio encontre um lugar de descanso.
Um elogio sincero, a menor das atenções, o detalhe que ninguém mais viu — são esses os fios que tecem a nossa permanência. A gente espera por grandes tempestades ou por sóis gloriosos, sem entender que a verdadeira transformação acontece no quase-nada. Um gesto minúsculo tem a força de mudar uma vida inteira. Porque a vida, você sabe, não é feita de anos, mas de instantes que se recusam a passar. É no insignificante que Deus — ou a falta Dele — se revela e nos salva.
©️ Beatriz Esmer
