O Mapa do Deslembro

Há lugares que são fendas:
neles depositamos, sem notar,
os estilhaços de um coração que se desmancha.
São cantos de mundo, mudos,
onde a memória é um sopro que se apaga,
deixando apenas o resíduo do que foi amor
e o pó do que virou perda.
O passado ali ecoa, entre paredes gastas,
velando o que de nós ficou pelo caminho.
Mas existem outros chãos,
lugares-despertar, onde o peito retoma o compasso.
Seja na sombra de uma árvore que viu séculos,
ou no pulsar febril da cidade que não dorme,
o coração se reconhece.
Ali, descobrimos o que ignorávamos ser,
sob o toque leve da esperança
e esse susto bom de recomeçar.
Nessa dança de perder-se e achar-se,
vamos tecendo o tempo.
O coração não é pedra, é tapeçaria:
trama de fios ásperos e sedas finas,
feito de alegria e de espanto,
desenhando, curva a curva,
o homem que o destino insiste em inventar.

©️ Beatriz Esmer

©️ Beatriz Esmer

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