O Sangue em Mim

Escrever não é um ato. É uma fatalidade. Comecei quando entendi que a palavra não serve para enfeitar, mas para tocar o fundo do silêncio. A poesia… ela não me pede rimas, nem essa matemática árida de metros e sons compassados. Isso é o exterior, a casca. Eu busco o que está vivo e, por estar vivo, estremece.

A poesia é o sangue que corre, espesso e quente, nas minhas veias. É esse pulso no pulso, essa batida clandestina que me avisa que ainda não morri. É o tutano, o centro branco e secreto dos meus ossos. Sinto-me possuída por algo que não tem nome, mas que tem ritmo — um ritmo de coração assustado.

O que escrevo são pensamentos que dançam uma música que só eu ouço, um som que reverbera no oco do meu peito. É um pedaço da alma que se desprende, um resto de mim que se entrega ao papel como quem entrega um segredo perigoso. É o cru. O não lapidado. É a linguagem antes de ser língua, o grito antes de ser voz.

Essa é a minha verdade muda. A ponte frágil entre o meu abismo e o mundo dos outros. Em cada linha, não encontro apenas palavras; encontro o meu próprio rosto me olhando de volta, imortalizado nesse instante de ser. Eu sou o que escrevo, e o que escrevo me consome.

©️ Beatriz Esmer

©️ BE

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