O tempo, esse senhor de passos largos e silenciosos, não pula o cercado de ninguém. Ele passa para todos, visita cada quintal, deixa a poeira nos móveis e o amarelado nas fotografias. Mas ele guarda um segredo: a maturidade, essa mansa senhora, não se senta à mesa com qualquer um. Ela escolhe bem com quem deseja compartilhar o pão e a palavra.
A maturidade não chega de enfeites. Ela é como uma moça com rugas evidentes, caminhos traçados na pele que contam histórias de risos e de prantos. Traz os olhos cansados, sim, pois já viram muitas luas e muitos janeiros, mas é uma fadiga que não desanima; é um olhar que já não se espanta com as sombras, pois aprendeu a valorizar a luz.
Suas roupas são pouco coloridas, tecidas em tons de terra e de serenidade, sem os brilhos falsos das vaidades vãs. Mas por baixo desse traje modesto, bate um coração vigoroso, perene, como raiz de árvore antiga que bebe água nas profundezas da alma. É um coração que não se apressa, mas que nunca para de pulsar vida.
Aprendi, no bater do meu tacho e no silêncio da minha casa, que viver não é ser maduro. Muita gente atravessa os dias apenas acumulando calendários, sem nunca sentir o sumo da experiência. Ser maduro só é possível vivendo, tropeçando nas pedras do caminho, sentindo o sol queimar os ombros e a chuva lavar o rosto. É no fogo do dia a dia que o fruto se adoça e o espírito se firma.🙏🏾
©️Beatriz Esmer
